Produção de leite tipo A2 A2

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Doutor Zoo

PRODUÇÃO DE LEITE TIPO A2A2

Autora: Maria Fernanda Pereira Batista

Disciplina: Extensão Rural

Curso: Zootecnia

Prof. Délcio César Cordeiro Rocha ICA/UFMG

 PRODUÇÃO DE LEITE TIPO A2A2

1) INTRODUÇÃO

O leite A2A2 tem atraído crescente atenção por suas possíveis vantagens sobre o leite convencional. Originado de vacas com o genótipo A2A2, esse tipo de leite se distingue principalmente pela composição de beta-caseína. A busca por alternativas alimentares mais adequadas e menos problemáticas levou a um interesse renovado nas propriedades e benefícios do leite A2A2, especialmente em comparação com o leite A1, que é mais comum e contém beta-caseína com uma estrutura ligeiramente diferente. Neste contexto, é fundamental entender as características do leite A2A2, suas diferenças em relação ao leite A1, e o potencial que ele oferece para a produção leiteira e o mercado consumidor.

2) O QUE É O LEITE A2A2?

Os primeiros estudos a respeito do leite A2A2 se iniciaram na Nova Zelândia na década de 1990 em busca de entender a origem dos polimorfismos A1A2 e A2A2 (BARBOSA et al., 2019). Os resultados evidenciaram que a diferença está na cadeia de aminoácidos da proteína β-caseína, mais precisamente na posição p.67.

É um leite recomendado para pessoas com sensibilidade ao peptídeo BCM-7 por ser de mais fácil digestão. É proveniente das vacas com o genótipo A2A2 sendo capazes de produzir apenas beta-caseína, uma das proteínas do leite.

3) O QUE O DIFERE DO LEITE TIPO A1?

Historicamente, o leite do tipo A2 é a forma original de proteína pois está presente no rebanho bovino desde a sua domesticação há milhares de anos.

A diferença dessas duas variantes se dá devido a uma mudança na sua sequência de nucleotídeos no momento da construção da cadeia de aminoácidos da beta-caseína, a sequência é modificada produzindo o aminoácido histidina no alelo A1 e prolina no alelo A2, ambos se ligam a leucina.

Em virtude dessa modificação na sequência de aminoácidos, no momento da quebra dessa proteína, ocorre a liberação de uma cadeia de aminoácidos que é por sua vez um peptídeo, conhecida como beta-casomorfina-7 (BCM-7). É esse peptídeo que causa reações adversas nos seres humanos, sendo considerado um fator oxidante e predisponente ao desenvolvimento de alergia à proteína do leite.

Entretanto, é importante destacar que o leite A1 é semelhante ao leite A2 em termos nutricionais, ou seja, considerando proteínas, gorduras, vitaminas, carboidratos e minerais, apresentando diferença apenas na posição do aminoácido.

4) INTOLERÂNCIA À LACTOSE E APLV

Embora o leite proveniente de vacas com o genótipo A2A2 e a sua funcionalidade vem sendo constantemente associada à intolerância à lactose e à APLV (Alergia a Proteina do Leite de Vaca) de forma errônea, ele não tem nenhuma relação com o quadro destas duas síndromes. A intolerância à lactose está diretamente relacionada à diminuição da atividade da enzima lactase no intestino delgado dos seres humanos, enquanto a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma reação que o sistema imunológico causa ao ingerir certas frações de proteínas do leite de vaca, tais como a caseína, α-lactoalbumina, β-lactoglobulina, globulina e albumina sérica bovina.

5) COMO PRODUZIR LEITE A2A2

A aptidão de um animal em produzir leite tipo A1A1 ou tipo A2A2 pode ser determinada por meio da análise do seu perfil genético, isto é, pelo teste de genotipagem, que analisa tecido biológico dos animais, sejam amostras de sangue ou pelagem. Frequências genotípicas variadas foram descritas em raças tradicionalmente utilizadas na pecuária leiteira e até em raças locais, mas de modo geral, as raças zebuínas apresentam frequências maiores do genótipo A2A2 do que taurinas (KAMIŃSKI et al., 2007).

Alguns levantamentos mostram que a frequência do alelo que determina a produção da β-caseína do tipo A2 é menor nas raças taurinas de bovinos. Isso indica que a mutação que originou a β-caseína A1 ocorreu nos animais dessas raças, provavelmente em algum lugar na Europa. Na população de animais da raça Holandês, a frequência do alelo A2 varia de 24 a 62%. Isso dificulta, mas não impossibilita o processo de seleção genética de animais homozigotos A2.

Os levantamentos realizados nas raças zebuínas, todavia, indicam que a frequência do A2 é bem maior. Um levantamento feito no Rio Grande do Sul encontrou uma frequência do alelo A2 de 50% nos animais da raça Holandês e de 92% nos da raça Gir.

Em outro estudo brasileiro, a frequência de alelo A2 em animais da raça Guzerá foi de 97%, e 93% apresentaram o genótipo A2A2. No Gir, a frequência do alelo A2 foi de 98%, e 96% dos animais apresentaram o genótipo A2A2. Esses resultados revelam o potencial genético das raças zebuínas para a produção de leite A2.

O teste de genotipagem, feito em uma amostra de material biológico (sangue ou folículo piloso), é a forma mais eficiente de determinar o genótipo para β-caseína do animal. No laboratório, o DNA é extraído e o marcador genético para essa característica é pesquisado. O resultado desse teste pode ser um dos três possíveis genótipos: A1A1, A1A2 ou A2A2. Apenas animais A2A2 produzem exclusivamente β-caseína A2.

6) COMÉRCIO E ESTRATÉGIAS DE MERCADO

A maior parte do leite vendido no mundo contém os dois tipos de caseína, A1 e A2. A β-caseína A1 é o tipo mais comum encontrado no leite das vacas de raças europeias, animais que produzem a maior parte do leite nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa, na Austrália e na Nova Zelândia.

O Brasil, que já é destaque no quesito produção de leite, tem um significativo potencial para investir em seleção genética e estabelecer seus rebanhos já existentes como rebanhos homozigotos focados na produção de leite A2A2, 13 produto que possui tendência de valorização. Cieslinska et al. (2012) defendem que os benefícios identificados nos estudos científicos sejam cada vez mais divulgados, especialmente para os indivíduos que já possuam alguma característica restritiva ao consumo do leite convencional (desconforto gastrointestinal, alergia à proteína do leite de vaca, entre outras).

O selo de certificação, criado em 2019 pelo Movimento Mais Leite, estabelece uma série de normas de diferenciação de produção, fiscalização de propriedades e laticínios, e rastreabilidade, como: brincos homologados; lotes e ordenha separada; tanques de estocagem exclusivos, bem como suas válvulas e conexões, evitando contrafluxo de leite de vacas não genotipadas; procedimentos de limpeza das instalações, equipamentos e utensílios (BEBA MAIS LEITE, 2020).

Ademais, no ano de 2021, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou a Resolução 3.980, autorizando que as frases ‘’Leite produzido 14 a partir de vacas com genótipo A2A2’’ e ‘’O leite A2 não promove formação de BCM-7, que pode causar desconforto digestivo” sejam incluídas no rótulo das embalagens de leite A2A2 (ABRALEITE, 2021).

7) CONCLUSÃO:

O leite A2A2 representa uma inovação significativa no campo da produção de leite, oferecendo uma alternativa para aqueles que enfrentam desconfortos digestivos com o leite convencional. Compreender a diferença entre os tipos de beta-caseína e a genética envolvida é crucial para promover a produção e o consumo de leite que pode ser mais facilmente digerido por certas pessoas. O crescente desenvolvimento de estratégias de mercado, como a certificação e a regulamentação adequada, sugerem um futuro promissor para o leite A2A2 no Brasil e globalmente.

  • REFERÊNCIAS

  • ABRALEITE. ABRALEITE consegue regulamentar o A2A2. Brasília: ABRALEITE,2021. Disponível em: https:/ /www.abraleite.org.br/2019/10/01/abr aleite-consegue-regulamentar-o-a2a2/.

  • BARBOSA, M. G.; SOUZA, A. B.; TAVARES, G. M.; ANTUNES, A. E. C. Leites A1 e A2: revisão sobre seus potenciais efeitos no trato digestório. Revista Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, v. 26, p. 1-11, 2019.

  • BEBAMAISLEITE. Memorial descritivo do protocolo operacional #bebamaisleite. Brasília: CNA SENAR, 2020. Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/assets/images/Memorial- descritivo-ProtocoloVacas-A2A2-bebamaisleite.pdf.

  • CIESLINSKA, A.; KOSTYRA, E.; KOSTYRA, H.; OLENSKI, K.; FIEDOROWICZ, E.; KAMINSKI, S. Milk from cows of different beta-casein genotypes as a source of beta-casomorphin-7. International Journal of Food Sciences and Nutrition, London, v. 63, n. 4, p. 426-430, 2012.

  • KAMIŃSKI, S.; CIEŚLIŃSKA, A.; KOSTYRA, E. Polymorphism of bovine betacasein and its potential effect on human health. Journal of Applied Genetics, Cheshire, 2007, v. 48, n. 3, p. 189-198.

  • SOUSA, Fernanda de Araujo Lima. Diferenciais do leite A2A2 e aplicabilidade. 2023.

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