O Veneno Nosso de Cada Dia: Até Quando?-Controle, Inspeção e Fiscalização do Uso de Agrotóxicos no Brasil
Artigo técnico/Campanha de Conscientização Ambiental Realizado pelos acadêmicos: Alex Victor Guedes Lima; Maisa Vieira dos Santos; Raquel Inglides Viana Guimarães Série: Eco Cidadão do Planeta/ Agrotóxicos Campanha/ Artigo técnico nº1 Curso: Zootecnia Disciplina: Extensão Rural ICA/UFMG Prof. Orientador Délcio César Cordeiro Rocha
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8/28/2024
O VENENO NOSSO DE CADA DIA, ATÉ QUANDO? - CONTROLE INSPEÇÃO E FISCALIZAÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS NO BRASIL
Autores: Alex Victor Guedes Lima;
Maisa Vieira dos Santos;
Raquel Inglides Viana Guimarães
Série: Eco Cidadão do Planeta/ Agrotóxicos nº1
Prof. Orientador: Délcio César Cordeiro Rocha
Introdução
No Brasil, o uso de agrotóxicos representa uma questão de significante relevância tanto para a saúde pública quanto para o meio ambiente. Este artigo tem como objetivo aprofundar a compreensão sobre a importância do controle, inspeção e fiscalização dessas substâncias, destacando o papel essencial do Estado neste contexto. O uso desmedido de agrotóxicos pode levar a severas consequências, tais como intoxicações agudas e crônicas em seres humanos, contaminação de recursos hídricos e degradação do solo e da biodiversidade.
Para assegurar que as leis sejam seguidas e para promover práticas agrícolas mais sustentáveis, é crucial um sistema robusto que realize o monitoramento rigoroso do uso de agrotóxicos. O Estado deve atuar ativamente na implementação de políticas e práticas que visam regular o registro, comercialização e aplicação dessas substâncias, visando minimizar seus impactos adversos. Além disso, uma fiscalização eficaz não apenas protege a saúde dos trabalhadores rurais e consumidores, mas também contribui para a preservação do meio ambiente.
Este controle minucioso começa na análise e aprovação de novos produtos, passando pela venda controlada, até a inspeção do uso em campo. Com o objetivo de mitigar as práticas de uso indiscriminado, é fundamental que as atividades de fiscalização sejam constantes e bem articuladas, envolvendo diversos órgãos e esferas governamentais. Profissionais treinados para essa inspeção e um sistema de monitoramento constante são pilares essenciais para a promoção da segurança ao meio ambiente e à saúde humana.
Dessa forma, o Estado brasileiro desempenha um papel central na criação de um ambiente agrícola mais seguro e sustentável. Neste artigo, discutiremos como as leis vigentes e as práticas de fiscalização se alinham para controlar o uso de agrotóxicos, examinando ainda os desafios que permanecem para a implementação de um sistema mais eficaz. A proteção da saúde e do meio ambiente deve ser uma prioridade contínua, assegurando que nossas práticas agrícolas evoluam em harmonia com a preservação ambiental.
Rio Grande do Sul: Pioneirismo na Luta contra os Agrotóxicos
O Rio Grande do Sul se destaca como um dos estados pioneiros na luta contra o uso indiscriminado de agrotóxicos no Brasil. A partir de uma série de políticas públicas e ações concretas, o estado busca restringir a utilização excessiva de substâncias químicas na agricultura, fomentando práticas agrícolas mais sustentáveis. Essas iniciativas são fundamentais para garantir a saúde pública e preservar o meio ambiente.
Entre as medidas implementadas, destaca-se a criação de leis estaduais rigorosas que regulamentam a aplicação de agrotóxicos. Essas regulamentações incluem, por exemplo, o controle da comercialização e uso dessas substâncias, bem como a imposição de zonas de exclusão ao redor de escolas e outras áreas sensíveis. Além das leis, o estado investe fortemente em campanhas educativas para sensibilizar a população sobre os riscos dos agrotóxicos. Essas campanhas são veiculadas através de diversos meios de comunicação, atingindo desde agricultores até consumidores urbanos.
Um dos exemplos significativos são os programas de capacitação para agricultores, onde são ensinadas práticas agrícolas menos dependentes de químicos. Nessas capacitações, profissionais de agronomia demonstram técnicas de manejo integrado de pragas e o uso de biofertilizantes. Tais programas não só reduzem a necessidade de agrotóxicos, mas também promovem a adoção de métodos mais ecológicos e seguros.
Adicionalmente, o estado incentiva a produção orgânica através de subsídios e apoio técnico. Projetos como feiras de produtores orgânicos e certificações especiais têm ajudado a aumentar a aceitação e consumo de produtos livres de agrotóxicos. Esses projetos demonstram que é possível aliar a viabilidade econômica dos agricultores com a saúde do consumidor e a conservação ambiental.
Portanto, o pioneirismo do Rio Grande do Sul na luta contra os agrotóxicos serve de inspiração para outras regiões. O compromisso contínuo com a educação pública e a implementação de políticas eficazes evidenciam a importância de se investir em alternativas sustentáveis. A consciência ambiental e a saúde pública devem caminhar juntas, garantindo um futuro mais sustentável e seguro para todos.
A redução do uso de agrotóxicos na agricultura é imperativa para garantir práticas agrícolas mais saudáveis e sustentáveis. O uso excessivo dessas substâncias químicas tem levantado preocupações sérias relacionadas à saúde pública e ao meio ambiente. Estudos científicos têm demonstrado que a exposição prolongada a agrotóxicos pode causar problemas de saúde significativos, incluindo doenças crônicas como o câncer, além de distúrbios neurológicos e endócrinos.
Além dos problemas à saúde humana, os agrotóxicos afetam negativamente o meio ambiente. Eles provocam a contaminação do solo e dos recursos hídricos, prejudicando a biodiversidade e colocando em risco espécies de plantas e animais. Práticas agrícolas mais sustentáveis, como o manejo integrado de pragas, a agricultura orgânica e a agroecologia, oferecem alternativas viáveis que podem reduzir drasticamente a dependência de produtos químicos.
Vários estudos de caso ilustram os benefícios econômicos e ecológicos de práticas agrícolas mais sustentáveis. Por exemplo, a substituição gradual de agrotóxicos por métodos naturais de controle de pragas tem demonstrado não somente preservar a saúde do solo e da água, mas também melhorar a qualidade dos alimentos produzidos. Além disso, os agricultores que adotam essas técnicas frequentemente relatam uma redução nos custos operacionais a longo prazo, devido à menor necessidade de insumos químicos.
Para incentivar essa transição, é essencial que políticas públicas sejam implementadas. Medidas como subsídios para pesquisas em métodos de cultivo sustentáveis, incentivos fiscais para produtores orgânicos e a promoção de campanhas educativas sobre os benefícios da redução de agrotóxicos seriam passos significativos. Governos e organizações internacionais podem desempenhar um papel crucial ao fomentar um ambiente regulatório que suporte práticas agrícolas mais verdes.
A mobilização de todos os setores da sociedade é fundamental para alcançar um futuro agrícola mais sustentável e seguro. Ao unir esforços, podemos criar um sistema alimentar que realmente favoreça a saúde das pessoas e do planeta, garantindo a produção de alimentos saudáveis sem comprometer as necessidades das gerações futuras.
O papel das políticas públicas e da fiscalização estatal na regulação do uso de agrotóxicos é crucial para proteger a saúde pública e o meio ambiente. A responsabilidade do Estado abrange a criação e implementação de regulamentações que controlam o uso de substâncias químicas na agricultura, além de garantir uma fiscalização eficiente e contínua. Essas medidas são essenciais para minimizar os riscos associados ao uso indiscriminado de agrotóxicos e promover práticas agrícolas mais sustentáveis.
Exemplos internacionais demonstram a eficácia de legislações rigorosas na redução do impacto negativo dos agrotóxicos. Na União Europeia, por exemplo, a regulamentação é extremamente estruturada, com o Regulamento (CE) nº 1107/2009 estipulando critérios rigorosos para a aprovação de produtos fitossanitários. Além disso, a Diretiva 2009/128/CE promove a adoção de práticas de uso sustentável de pesticidas, incentivando técnicas alternativas e reduzindo o uso excessivo de produtos químicos.
No Brasil, embora existam leis que regulem o uso de agrotóxicos, prática de fiscalização ainda enfrenta muitos desafios. A Lei nº 7.802/1989, conhecida como Lei dos Agrotóxicos, estabelece diretrizes para a pesquisa, produção, comercialização e uso de agrotóxicos. No entanto, para que a legislação seja efetiva, é necessário aumentar a fiscalização e capacitar os órgãos responsáveis pela supervisão dessas atividades. Investir na formação de agentes de fiscalização e na infraestrutura tecnológica é fundamental.
A colaboração entre diferentes setores da sociedade também é imprescindível para alcançar a segurança alimentar e ambiental. O Governo deve atuar em conjunto com agricultores, pesquisadores e consumidores para promover boas práticas agrícolas e políticas públicas eficientes. Agricultores precisam estar informados e capacitados para adotar alternativas aos agrotóxicos, como o manejo integrado de pragas e o uso de bioinsumos. Consumidores, por sua vez, têm o poder de influenciar o mercado por meio de suas escolhas de compra, optando por produtos cultivados com métodos sustentáveis.
Dessa forma, a proteção da saúde pública e do meio ambiente depende de um esforço conjunto, onde políticas públicas eficazes, fiscalização abrangente e participação ativa da sociedade são elementos essenciais para se alcançar um uso responsável e racional dos agrotóxicos na agricultura brasileira.
Compreendendo a Dose Diária Aceitável e o Período de Carência
O uso de agrotóxicos na agricultura é um tema que frequentemente gera debates e preocupações, principalmente quando se trata da segurança alimentar. Dois conceitos chave nesse contexto são a "dose diária aceitável" (DDA) e o "período de carência". Compreender esses termos é essencial para avaliar o consumo seguro de alimentos e a eficácia na utilização de agrotóxicos.
A dose diária aceitável (DDA) refere-se à quantidade máxima de resíduos de agrotóxicos que uma pessoa pode ingerir diariamente ao longo da vida sem que haja riscos consideráveis à saúde. Este parâmetro é rigorosamente estabelecido com base em estudos toxicológicos extensivos, que analisam os efeitos desses compostos em animais de laboratório e, subsequentemente, extrapolam os dados para seres humanos com um fator de segurança adicional. A DDA é expressa em miligramas da substância ativa por quilograma de peso corporal (mg/kg/dia), e sua determinação visa garantir que o consumo de produtos agrícolas tratados com agrotóxicos não represente uma ameaça à saúde pública.
Outro conceito fundamental é o "período de carência", que se refere ao intervalo de tempo necessário entre a última aplicação do agrotóxico na cultura e a colheita do produto. Este período é crucial para assegurar que os níveis de resíduos presentes nos alimentos estejam dentro dos limites aceitáveis para consumo, conforme estipulado na DDA. A determinação do período de carência é baseada em estudos de degradação de resíduos de agrotóxicos no campo, levando em conta fatores como o tipo de cultura, clima e método de aplicação do agrotóxico.
A harmonização entre a dose diária aceitável e o período de carência é vital para garantir a segurança alimentar e minimizar os impactos dos agrotóxicos na saúde humana. Desse modo, regulamentos rigorosos e monitoramento contínuo são essenciais para assegurar que as práticas agrícolas sejam seguidas corretamente, protegendo não apenas os consumidores, mas também os agricultores e o meio ambiente. Ao compreender melhor esses conceitos, a população pode ter maior segurança quanto à qualidade dos alimentos consumidos e aos cuidados tomados na produção agrícola.
Potenciais Impactos na Saúde Humana
O uso de agrotóxicos na agricultura tem sido uma prática amplamente debatida devido aos seus potenciais impactos na saúde humana. Diversos estudos científicos têm evidenciado a correlação entre a exposição contínua a esses produtos químicos, mesmo em doses menores, e uma série de efeitos cumulativos no organismo humano.
Entre as doenças crônicas e agudas associadas à exposição a agrotóxicos, destacam-se o câncer, distúrbios neurológicos e hormonais. Pesquisas realizadas pela Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC) apontaram que alguns agrotóxicos são classificados como carcinogênicos, evidenciando uma ligação direta entre a exposição prolongada a esses produtos e o aumento do risco de desenvolvimento de diferentes tipos de câncer.
Além disso, um estudo publicado no Environmental Health Perspectives revelou que a exposição a agrotóxicos pode levar a distúrbios neurológicos, como Parkinson e Alzheimer. A interação desses compostos com o sistema nervoso central pode resultar em danos irreversíveis, principalmente entre trabalhadores agrícolas que estão constantemente em contato com essas substâncias.
Os distúrbios hormonais são igualmente preocupantes. Pesquisas indicam que alguns agrotóxicos atuam como disruptores endócrinos, interferindo na atividade hormonal normal e podendo causar problemas de fertilidade, defeitos congênitos e disfunções metabólicas. Estudos realizados pelo Endocrine Society têm destacado a necessidade urgente de regulamentação mais rigorosa para minimizar esses riscos.
Especialistas na área da saúde e meio ambiente, epidemiologistas, enfatizam a importância de conscientizar a população sobre os riscos associados ao consumo de alimentos contaminados por agrotóxicos. Segundo eles, procurar alternativas mais seguras, como produtos orgânicos, pode reduzir significativamente a exposição a esses compostos prejudiciais.
Portanto, é essencial que políticos, produtores e consumidores se unam para promover práticas agrícolas sustentáveis e seguras. A conscientização e a educação sobre os perigos dos agrotóxicos podem contribuir para uma vida mais saudável e um meio ambiente mais equilibrado.
Transição para Práticas Agrícolas mais Sustentáveis
Na busca por práticas agrícolas mais sustentáveis, a transição do uso intensivo de agrotóxicos para métodos alternativos apresenta-se não apenas como uma necessidade, mas como uma oportunidade para promover a resiliência dos sistemas agrícolas. A agricultura orgânica, a agroecologia e a agricultura regenerativa são abordagens que priorizam técnicas naturais no controle de pragas e na melhoria da fertilidade do solo. Essas práticas contribuem para um ambiente mais saudável, tanto para os agricultores quanto para as comunidades que consomem seus produtos.
A agricultura orgânica, que exclui o uso de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, depende de práticas como a rotação de culturas, o uso de compostagem e a biodiversidade para manter um ciclo sustentável e produtivo. De forma semelhante, a agroecologia integra conhecimento tradicional e científico, promovendo um equilíbrio ecológico que favorece o controle natural de pragas e a manutenção da fertilidade do solo. Já a agricultura regenerativa vai além da sustentabilidade, buscando recuperar e revitalizar os ecossistemas agrícolas por meio de técnicas como plantio direto, cobertura vegetal permanente e uso de policulturas.
Casos de sucesso ao redor do mundo demonstram os benefícios tangíveis dessas práticas. Agricultores em diversas regiões têm relatado melhorias significativas na saúde do solo, aumento da produtividade, e um menor impacto ambiental. Estes exemplos indicam que, embora haja desafios na transição, como o ajuste inicial nas técnicas de cultivo e a necessidade de suporte técnico especializado, os resultados são promissores tanto em termos de saúde pública quanto de viabilidade econômica.
Entretanto, esta transição exige apoio contínuo. Governos e organizações não-governamentais desempenham papel crucial oferecendo incentivos financeiros, programas de capacitação e campanhas de conscientização. Tais iniciativas são essenciais para que os produtores tenham as ferramentas e o conhecimento necessários para implementar práticas agrícolas sustentáveis de forma efetiva e duradoura. Com o suporte adequado, é possível transformar os métodos agrícolas contemporâneos e garantir uma produção alimentar que respeite tanto o ambiente quanto a saúde humana.
Inspeção em Propriedades Rurais
A inspeção em propriedades rurais é uma fase crucial no controle e na fiscalização do uso de agrotóxicos no Brasil. Realizadas pelas autoridades competentes, essas inspeções têm como objetivo garantir que as práticas agrícolas estejam em conformidade com as normas estabelecidas, protegendo tanto a saúde pública quanto o meio ambiente.
As inspeções são conduzidas periodicamente para verificar a correta aplicação e armazenamento dos agrotóxicos, bem como o cumprimento das regulamentações que visam minimizar os riscos associados a esses produtos químicos. Os critérios de inspeção incluem a verificação de registros detalhados de uso, o controle de pragas, a condição dos equipamentos de aplicação e a presença de medidas de segurança adequadas para os trabalhadores rurais.
Para realizar essas inspeções de forma eficiente e precisa, diversas técnicas e tecnologias têm sido empregadas. Drones, por exemplo, são utilizados para monitorar grandes extensões de terras agrícolas, permitindo uma fiscalização mais abrangente e detalhada. A análise de amostras de solo e água também é um método frequente, utilizado para detectar possíveis contaminações químicas. Além disso, sistemas de geolocalização ajudam a mapear e identificar áreas críticas que necessitam de maior atenção.
Apesar do avanço das tecnologias, as autoridades enfrentam diversos desafios no processo de inspeção em propriedades rurais. A vasta extensão territorial do Brasil e a diversidade das operações agrícolas tornam a fiscalização uma tarefa complexa. Em algumas localidades, o acesso às propriedades pode ser dificultado por infraestrutura inadequada. Adicionalmente, a falta de recursos e de mão de obra qualificada pode comprometer a efetividade das inspeções.
Portanto, para que o controle do uso de agrotóxicos seja efetivo, é imprescindível que as inspeções sejam realizadas de maneira contínua e sistemática. A atuação conjunta entre órgãos governamentais, tecnologias avançadas e a conscientização dos produtores rurais é fundamental para garantir a segurança alimentar e a preservação ambiental no Brasil.
Cumprimento da Legislação
Cumprir a legislação vigente é um dos pilares fundamentais para garantir que o uso de agrotóxicos não comprometa a saúde pública e o meio ambiente no Brasil. O arcabouço jurídico que regula o uso de agrotóxicos no país é complexo e abrangente, visando assegurar tanto a eficácia quanto a segurança das substâncias utilizadas no setor agrícola. A principal legislação que regula esse uso é a Lei nº 7.802/1989, conhecida como Lei dos Agrotóxicos, que estabelece normas rígidas para registro, comercialização, transporte, armazenamento, utilização e descarte desses produtos.
Um dos aspectos centrais da Lei dos Agrotóxicos é a exigência de registros específicos para cada produto, os quais são concedidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Esses órgãos trabalham de forma integrada para avaliar a segurança e a eficácia dos produtos, bem como seus impactos ambientais.
Penalidades severas são aplicadas para o não cumprimento das normas estabelecidas. Essas penalidades podem variar desde multas substanciais até a suspensão da licença para operar. Situações mais graves podem levar a sanções penais, especialmente nos casos de negligência que resultem em danos à saúde pública ou ao meio ambiente. A fiscalização é conduzida por organismos federais, estaduais e municipais, que possuem a autoridade para realizar inspeções em campo e garantir a conformidade com a legislação.
Para apoiar o cumprimento das leis, políticas públicas são continuamente desenvolvidas e implementadas. Programas de educação e treinamento são fundamentais para informar agricultores e aplicadores de agrotóxicos sobre práticas seguras e legais. Além disso, campanhas de conscientização e a promoção de boas práticas agrícolas são essenciais para incentivar um uso mais responsável e sustentável dos agrotóxicos. Dessa forma, as políticas públicas não apenas regulam, mas também educam, transformando o uso de agrotóxicos em uma prática segura e ecologicamente responsável.
Proteção da Saúde Humana
Os agrotóxicos, amplamente utilizados na agricultura brasileira, apresentam riscos significativos à saúde humana. A exposição a esses compostos químicos pode ocorrer de diversas formas, seja por contato direto durante a aplicação, pela ingestão de alimentos contaminados, pela contaminação da água ou até mesmo pela inalação de partículas dispersas no ar. Os riscos de exposição incluem sintomas imediatos, como dor de cabeça, náusea, tontura, irritação cutânea e ocular, e efeitos crônicos que podem levar ao desenvolvimento de doenças graves como câncer, problemas neurológicos e distúrbios endócrinos.
Para mitigar esses riscos, o Estado brasileiro adota várias medidas de controle e fiscalização. Uma delas é a fiscalização de resíduos de agrotóxicos em alimentos, realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Através do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), são monitorados os níveis de resíduos presentes nos alimentos vendidos ao consumidor, garantindo que não ultrapassem os limites estabelecidos pela legislação vigente. Isso assegura que os alimentos consumidos pela população estejam dentro dos padrões de segurança alimentar.
Além das ações de fiscalização, é crucial a implementação de programas educativos e preventivos voltados tanto para a população rural, que está mais diretamente envolvida com a aplicação dos agrotóxicos, quanto para a população urbana, que também pode ser afetada indiretamente. Campanhas de conscientização sobre o uso seguro e responsável destes produtos, treinamento de aplicadores e disseminação de boas práticas agrícolas são essenciais para reduzir a exposição aos agrotóxicos e proteger a saúde pública.
Essas medidas, conjugadas com uma rigorosa regulação do uso e comercialização de agrotóxicos, são fundamentais para minimizar os impactos adversos à saúde humana, promovendo um ambiente agrícola mais seguro e saudável.
Proteção Ambiental
O uso indiscriminado de agrotóxicos no Brasil tem gerado preocupações significativas sobre seus efeitos nocivos ao meio ambiente. A contaminação do solo, da água e a ameaça à biodiversidade são alguns dos principais impactos negativos. Para mitigar esses problemas, a fiscalização ambiental desempenha um papel crucial, implementando práticas rigorosas de controle e monitoramento.
Um dos principais mecanismos de controle é a avaliação técnica e científica dos agrotóxicos antes de sua liberação para uso. Os órgãos responsáveis, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), exigem estudos de impacto que analisam os efeitos potenciais sobre o solo e os corpos d'água. Além disso, há práticas como o monitoramento constante da qualidade da água e a análise periódica do solo para detectar e controlar a presença de resíduos tóxicos.
No que tange à restauração de áreas afetadas, o Brasil tem adotado medidas que visam recuperar e proteger ecossistemas fragilizados pelo uso de agrotóxicos. A recomposição da vegetação nativa, a criação de zonas de amortecimento e a implementação de programas de reflorestamento são algumas das ações empregadas para restaurar a biodiversidade e promover a sustentabilidade ambiental. Estas medidas auxiliam na recuperação dos habitats e na manutenção dos serviços ecossistêmicos, essenciais para a saúde do meio ambiente e das comunidades humanas.
Além das ações de restauração, a educação ambiental emerge como uma ferramenta vital. Campanhas de conscientização e a capacitação de agricultores sobre o uso responsável e sustentável dos agrotóxicos contribuem para reduzir os impactos ambientais. Promover o manejo integrado de pragas e o uso de métodos alternativos, como os biopesticidas, são estratégias eficazes que complementam as iniciativas de fiscalização e controle.
Dessa forma, a implementação de práticas rigorosas de fiscalização, a adoção de medidas restaurativas e investimentos em educação ambiental são cruciais para proteger o meio ambiente do impacto dos agrotóxicos. Essas ações colaboram para garantir a sustentabilidade e a proteção da biodiversidade, visando um futuro mais seguro e saudável para todos.
Alternativas de Controle
Para reduzir a dependência de agrotóxicos, é fundamental adotar soluções sustentáveis que protejam tanto a saúde quanto o meio ambiente. Um dos métodos mais eficazes é o uso de predadores naturais. Esses organismos, como insetos benéficos, aves e pequenos mamíferos, ajudam a controlar a população de pragas sem a necessidade de produtos químicos. A biodiversidade nas plantações é um aliado poderoso no manejo sustentável, favorecendo o equilíbrio ecológico.
Os extratos vegetais são outra estratégia promissora. Produtos derivados de plantas como o Nim (Azadirachta indica) possuem propriedades inseticidas e fungicidas. Quando aplicados de forma correta, esses extratos podem ser tão eficazes quanto os agrotóxicos sintéticos, mas com menos impacto ambiental. Eles são biodegradáveis e muitas vezes atuam de maneira seletiva, reduzindo o risco de afetar outras espécies.
O uso de microrganismos também tem ganhado destaque. Fungos entomopatogênicos, nomes cientificamente conhecidos como Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, são aplicados para infectar e controlar populações de insetos prejudiciais. Esses microrganismos são naturais, seguros e oferecem uma alternativa eficaz ao combate de pragas. A biotecnologia tem permitido o desenvolvimento e a otimização desses agentes biológicos, oferecendo soluções viáveis e ecoeficientes.
Pesquisas científicas oferecem respaldo para a aplicação dessas alternativas. Diversas iniciativas de conscientização e capacitação de agricultores têm sido conduzidas para difundir o manejo integrado de pragas (MIP), que combina diferentes métodos de controle para minimizar o uso de agrotóxicos. Práticas agrícolas ecoeficientes, como a rotação de culturas, adubação verde e plantio direto, também contribuem para a sustentabilidade e a saúde do solo, promovendo um sistema agrícola mais resiliente.
Adotar alternativas de controle é uma necessidade premente para garantir a sustentabilidade do agronegócio brasileiro. A integração de métodos biológicos, técnicos e educativos representa um caminho promissor para um futuro agrícola mais seguro e ambientalmente responsável.
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Como Citar:
Portal AMBIENTE EM FOCO. LIMA, A. V. G.; SANTOS, M. V. dos.; GUIMARÃES, R. I. V. & ROCHA, D. C. C. O Veneno Nosso de Cada Dia, Até Quando? Controle, Inspeção e Fiscalização do Uso de Agrotóxicos no Brasil . Disponível em: https://ambienteemfoco.com/o-veneno-nosso-de-cada-dia-ate-quando-controle-inspecao-e-fiscalizacao-do-uso-de-agrotoxicos-no-brasil Série: Eco Cidadão do Planeta. Campanha/Artigo técnico nº1. publicado em 2024 Acesso em DIA/ MÊS/ ANO