
Os Sistemas de Produção em Aquicultura e Manejo Alimentar dos Peixes
A aquicultura, que envolve a criação de organismos aquáticos em ambientes controlados, têm ganhado destaque no cenário global por apresentar-se como uma solução viável para atender à crescente demanda por pescado devido ao crescimento populacional.
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Os Sistemas de Produção em Aquicultura e Manejo Alimentar dos Peixes
Autor: Vinícius Henrique de Oliveira Melo
Prof. Orientador: Délcio César Cordeiro Rocha
Disciplina: Criação e Exploração de Animais Domésticos
Curso: Eng. Agrícola e Ambiental ICA/UFMG
Introdução à Aquicultura no Brasil
A aquicultura, que envolve a criação de organismos aquáticos em ambientes controlados, têm ganhado destaque no cenário global por apresentar-se como uma solução viável para atender à crescente demanda por pescado devido ao crescimento populacional. No Brasil, por ser um país rico em recursos hídricos e que possui clima favorável, o potencial para a aquicultura é significativo, fazendo com que ela seja uma alternativa viável para complementar a produção agropecuária do país, ou seja, um setor em crescimento, crucial para a economia e a segurança alimentar do país. Esse segmento envolve a criação de organismos aquáticos, como peixes, crustáceos e moluscos, em ambientes controlados, visando atender a uma demanda crescente por proteína animal e promover o desenvolvimento sustentável, um potencial inexplorado para maximizar a produção aquática.
Historicamente, a aquicultura no Brasil começou a se desenvolver nas últimas décadas do século XX, mas, com o passar do tempo, ganhou importância tanto econômica quanto social. A prática não apenas contribui para o aumento da oferta de alimentos, mas também gera emprego e renda em diversas comunidades, especialmente nas regiões costeiras e ribeirinhas. Essa conexão social torna a aquicultura um componente vital para a mitigação da pobreza e a promoção de oportunidades econômicas nas áreas rurais.
Entretanto, o setor enfrenta desafios significativos. As questões ambientais são uma preocupação constante, já que a expansão das atividades de aquicultura pode levar à degradação de ecossistemas aquáticos e à poluição das águas. Assim, práticas sustentáveis devem ser adotadas para garantir que o crescimento da aquicultura não comprometa os recursos naturais. Além disso, a gestão da saúde dos organismos aquáticos e o manejo responsável das doenças representam desafios adicionais que precisam ser abordados para manter a viabilidade do setor a longo prazo.
Por fim, é evidente que a aquicultura no Brasil possui um papel estratégico na contribuição para a segurança alimentar e no desenvolvimento econômico. O país, ao reconhecer e abordar os desafios que lhe são apresentados, pode consolidar sua posição como um dos líderes na produção sustentável de organismos aquáticos no cenário global.
Classificação dos Sistemas de Produção em Aquicultura
A aquicultura, enquanto prática de cultivo de organismos aquáticos, requer uma classificação adequada dos sistemas de produção. Uma das formas mais comuns de categorizar esses sistemas é pelo uso da água. Essa classificação não apenas facilita a compreensão dos diferentes métodos, mas também é crucial para o planejamento e manejo eficiente da produção aquática.
Os sistemas de produção em aquicultura podem ser divididos em três categorias principais: sistemas de fluxo contínuo, sistemas de recirculação e viveiros estáticos. Os sistemas de fluxo contínuo utilizam água que é constantemente renovada, permitindo uma boa qualidade da água e um ambiente saudável para os organismos cultivados. Essa abordagem é especialmente eficaz em regiões com acesso fácil à água fresca, sendo essencial para espécies que requerem condições hídricas estáveis.
Por outro lado, os sistemas de recirculação têm ganhado destaque por sua eficiência no uso da água. Nesses sistemas, a água é tratada e reutilizada, reduzindo a necessidade de grandes volumes de água fresca e minimizando os impactos ambientais. Eles são interessantes para locais onde a água é escassa e para atividades que demandam um controle rigoroso da qualidade da água, possibilitando o cultivo intensivo de diversas espécies aquáticas.
Os viveiros estáticos, por sua vez, são um método tradicional de aquicultura, onde a água é armazenada em tanques ou lagoas. Este sistema deve ser monitorado de perto para evitar a deterioração da qualidade da água, uma vez que não há renovação contínua. Embora seja menos eficiente em termos de uso de água comparado aos sistemas de recirculação, os viveiros estáticos apresentam um custo de construção mais acessível e podem ser a opção ideal para pequenos produtores que buscam alternativas sustentáveis e viáveis.
Assim, a classificação dos sistemas de produção em aquicultura é fundamental para a implementação de estratégias de manejo que assegurem o desenvolvimento sustentável e produtivo da aquicultura no Brasil.
Viveiros Estáticos
Os viveiros estáticos representam uma das principais modalidades de produção na aquicultura brasileira. Este sistema é caracterizado por ser uma estrutura fechada, onde a água é mantida em circulação controlada ou em um volume fixo. O ambiente nos viveiros estáticos é cuidadosamente gerido, permitindo um controle eficiente da qualidade da água, que é fundamental para o bem-estar e desenvolvimento das espécies cultivadas. A água utilizada pode ser de fontes naturais, como rios e lagos, ou ainda tratada, visando à remoção de contaminantes e ao fornecimento de nutrientes essenciais.
Entre as vantagens dos viveiros estáticos estão a facilidade de manejo e a possibilidade de intensificação da produção. Como a qualidade da água é mantida em um nível ideal, os organismos aquáticos podem crescer de forma saudável, resultando em uma produção maior e mais eficiente. Ademais, os viveiros podem ser utilizados para o cultivo de diversas espécies, como tilápia, carpa e camarões, com resultados promissores. A flexibilidade na escolha das espécies permite ao produtor adaptar-se às demandas de mercado e às condições locais.
Tanque de Fluxo Contínuo
O sistema de tanque de fluxo contínuo é uma das abordagens mais utilizadas na aquicultura moderna, especialmente no Brasil, caracterizando-se por proporcionar um ambiente estável e controlado para o cultivo de organismos aquáticos. Neste sistema, a água é constantemente renovada, permitindo que influxos regulares de oxigênio sejam fornecidos, enquanto resíduos e contaminantes são removidos, criando condições ideais para o crescimento e desenvolvimento dos aquáticos.
A infraestrutura necessária para o funcionamento de um tanque de fluxo contínuo inclui tanques de cultivo, bombas submersíveis, filtros, sistemas de aeração e equipamentos de monitoramento físico e químico da água. Os tanques, geralmente construídos de forma circular ou retangular, são projetados para facilitar a circulação contínua da água, garantindo assim o aporte de oxigênio e a remoção de excretas, que são abundantes em sistemas de cultivo intensivo.
Uma das características distintivas desse sistema é a sua flexibilidade em relação ao manejo. O aquicultor pode otimizar a densidade de estocagem de organismos aquáticos, de acordo com as necessidades específicas de cada espécie, assim como ajustar a alimentação, a temperatura e a qualidade da água. Este nivelamento de variáveis permite não apenas aumentar a produção, mas também minimize os riscos associados a doenças e estresses ambientais.
Os benefícios do sistema de tanque de fluxo contínuo em aquicultura não se limitam apenas ao aumento da eficiência produtiva. A qualidade da água é um fator crucial para a sobrevivência e o crescimento dos organismos aquáticos, e um sistema que promove a renovação constante garante que as condições ideais sejam mantidas. Além disso, o controle eficaz sobre a água ajuda a minimizar o impacto ambiental, contribuindo para uma aquicultura mais sustentável.
Tanques-rede
Os tanques-rede emergem como uma alternativa viável dentro do setor da aquicultura brasileira, permitindo a produção de organismos aquáticos em ambientes de água aberta, como rios, lagos e mares. Este sistema se destaca por sua flexibilidade e adaptabilidade a diversas condições ambientais. A instalação de tanques-rede deve ser realizada em locais que apresentem boas condições de qualidade da água, como oxigenação adequada, pH equilibrado e níveis de nutrientes favoráveis à vida aquática. Ao escolher a localização, também é fundamental considerar a proteção contra correntes intensas e a presença de poluição, que podem comprometer a saúde dos organismos cultivados.
A gestão dos tanques-rede envolve diversas práticas, como monitoramento constante da qualidade da água, controle de densidade populacional e alimentação dos organismos cultivados. Essa supervisão é crucial para garantir a eficiência do sistema e maximizar a produtividade. Além disso, a manutenção das redes em boas condições evita a perda de organismos e a entrada de predadores. Uma boa prática de manejo inclui a rotação de espécies, permitindo que as águas se recuperem e evitando a degradação do ambiente aquático. Peixes como tilápias, bandas e salmões são algumas das espécies que se adaptam bem a este sistema, sendo populares em sistemas de tanques-rede no Brasil.
A aquicultura por meio de tanques-rede é uma prática que se integra ao contexto sustentável, pois possibilita um uso eficiente dos recursos hídricos, contribuindo para a produção de alimentos e geração de renda. É essencial que os aquicultores se mantenham atualizados sobre as técnicas de manejo e as inovações tecnológicas que podem otimizar a produção nesse sistema. Ao adotar práticas responsáveis e sustentáveis, os tanques-rede se consolidam como um pilar importante da aquicultura no cenário brasileiro.
Fluxo Contínuo com Reuso da Água
O sistema de fluxo contínuo com reuso da água tem se tornado uma alternativa significativa na aquicultura brasileira, promovendo eficiência e sustentabilidade. Esse sistema é caracterizado pela utilização de água que, após passar por processos de filtragem e tratamento, é recirculada, minimizando o desperdício e a necessidade de novos recursos hídricos. A implementação desse modelo resulta em diversas vantagens tanto técnicas quanto ambientais.
Do ponto de vista técnico, o fluxo contínuo assegura que a qualidade da água se mantenha em níveis adequados, favorecendo o desenvolvimento saudável das espécies cultivadas. A constante circulação permite que os parâmetros, como temperatura, oxigênio dissolvido e pH, sejam monitorados e ajustados de maneira mais eficaz. Além disso, ao promover a reciclagem da água, esse sistema reduz a incidência de doenças, uma vez que a limpeza frequente minimiza a acumulação de resíduos e patógenos.
Do aspecto econômico, a aquicultura com fluxo contínuo e reuso da água apresenta custos operacionais reduzidos. Poupa-se não apenas na aquisição de água, uma vez que a reutilização diminui a demanda externa, mas também nas despesas com energia, já que sistemas de reuso são projetados para otimizar o funcionamento, minimizando desperdícios energéticos. Assim, esses sistemas se configuram como viáveis alternativas de produção, especialmente para pequenos e médios produtores que buscam equilibrar a sustentabilidade e a rentabilidade de suas atividades.
Além disso, quando se trata da sustentabilidade ambiental, o reuso da água ajuda a preservar os recursos hídricos locais, reduzindo a pressão sobre os ecossistemas aquáticos. O sistema de fluxo contínuo, ao limitar a descarga de água fresca em corpos d’água, contribui significativamente para a proteção da biodiversidade e para a mitigação dos impactos associados à poluição hídrica provocada por efluentes. Essa abordagem alinhada com práticas de manejo consciente, portanto, se mostra essencial para o desenvolvimento responsável da aquicultura no Brasil.
Produção Anual, Mercado e Cadeias Produtivas
A aquicultura no Brasil tem se consolidado como uma importante fonte de proteína para a população e uma alternativa viável à pesca tradicional. De acordo com dados recentes, a produção anual de aquicultura no país ultrapassa os 800 mil toneladas, envolvendo uma gama diversificada de espécies cultivadas. Entre as principais, destacam-se o tilápia, o camarão e o pacu, que são amplamente reconhecidos tanto no mercado interno quanto no externo.
O mercado consumidor da aquicultura brasileira tem crescido a passos largos, influenciado por mudanças nos hábitos alimentares, que favorecem a busca por fontes de proteína mais sustentáveis. As regiões Sul e Sudeste do Brasil são as principais responsáveis pela produção, mas o setor vem se expandindo para outras partes do país, elevando a competitividade. A diversificação das espécies cultivadas também se mostra uma tendência em ascensão, refletindo a demanda por produtos mais variados e de qualidade.
As cadeias produtivas da aquicultura no Brasil são complexas e englobam diferentes elos, desde a produção até a comercialização. Os agricultores, na maioria, têm adoptado práticas de cultivo que visam eficiência e sustentabilidade, contribuindo para a conservação dos recursos hídricos e a redução dos impactos ambientais. A necessidade de regulamentação e certificação dos produtos tem se tornado cada vez mais relevante, garantindo a qualidade e segurança alimentar dos itens comercializados.
A importância do setor de aquicultura na economia nacional não pode ser subestimada. Ele gera empregos, movimenta a economia local e contribui para a segurança alimentar, especialmente em regiões onde a disponibilidade de alimentos é uma preocupação constante. Assim, a aquicultura continua a ser uma parte vital do desenvolvimento econômico do Brasil, garantindo uma oferta constante de produtos aquáticos de qualidade para os consumidores.
Manejo Alimentar dos Peixes:
Introdução:
O manejo alimentar é uma componente crítica na aquicultura, responsável por 50% a 70% nos gastos totais da produção, ele determina o resultado do cultivo, influenciando na saúde, crescimento, resistência a doenças e na taxa de conversão alimentar dos peixes.
Importância do Manejo Alimentar
O manejo alimentar eficiente é essencial para garantir a nutrição adequada dos peixes, promover o crescimento rápido e saudável, e minimizar os custos de produção. Afinal, a alimentação em excesso leva ao desperdício de ração e poluição do sistema com dejetos, além de promover prejuízos econômicos , enquanto que a alimentação abaixo da quantidade mínima necessária gera deficiências no desenvolvimento dos peixes.
O manejo alimentar pode ser feito com rações suplementares ou completas, sendo que uma supre as deficiências da alimentação natural e a outra fornece uma alimentação nutricional completa, sem necessidade de alimentação natural.
Tipos de ração utilizadas:
Rações fareladas → São o tipo de alimento mais econômico pois não demandam processamento além da mistura. Aconselhada somente para fases jovens do desenvolvimento devido às perdas que ocorrem.
Rações granuladas úmidas → São aquelas que utilizam resíduos ou descartes da indústria de processamento de pescado, que são impróprios para o consumo humano. São suplementadas com vitaminas em doses elevadas e o seu armazenamento deve ser feito em câmaras frias, devido ao seu reduzido tempo de conservação.
Rações granuladas secas → São obtidas pela granulação das dietas fareladas e são o tipo de alimentação mais utilizado devido a sua facilidade de preparação, transporte, armazenamento e administração aos peixes.
Grânulos expandidos ou extrusados → São flutuantes e têm grande estabilidade. Elas vêm sendo cada vez mais utilizadas nas produções, pois apesar de demandarem mais espaço para armazenamento e seu custo de produção ser mais elevado que as rações secas, elas têm como vantagens uma maior estabilidade nas rações e são mais fáceis de controlar a quantidade que é fornecida para os peixes.
Como os peixes são comedores intermitentes, é recomendado que não sejam feitas alterações nos locais e horários em que sua alimentação é realizada e que ela seja dividida em duas refeições diárias. Peixes em fases iniciais de desenvolvimento podem ingerir voluntariamente até 10% do seu peso vivo/dia, e essa ingestão é reduzida em até 1% do peso vivo/dia conforme o peixe envelhece. Em temperaturas mais baixas, principalmente no inverno, essa ingestão se reduz em até 0,5% do peso vivo/dia.
Referências:
Cyrino, J.E.P., Oliveira, A.M.B.M.S., & Costa, A.B. (Ano). Introdução à Piscicultura. Departamento de Zootecnia, ESALQ/USP.
Matéria sobre Sistemas de Produção de Peixes. Agriconline. Disponível em: https://agriconline.com.br/portal/artigo/sistemas-de-producao-de-peixes/
Nutrição e manejo alimentar na piscicultura / Rodrigo Robach ... [et al.] Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2002. 14 p. (Embrapa Amazônia Ocidental. Documentos; 23). ISSN 1517-3135 1. Piscicultura 2. Nutrição animal I. Bach, Rodrigo II. Gomes, Levy de Carvalho III. Chagas, Edsandra Campos IV. Lourenço, José Nestor de Paula
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Piscicultura: alimentação. / Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. – Brasília: Senar, 2019.
