Preocupante- Brasil Lidera Uso de Agrotóxicos no Mundo
Artigo técnico/Campanha de Conscientização Ambiental Realizado pelos acadêmicos: Alex Victor Guedes Lima; Maisa Vieira dos Santos; Raquel Inglides Viana Guimarães Série: Eco Cidadão do Planeta/ Campanha Agrotóxicos/ Artigo técnico nº1 Curso: Zootecnia Disciplina: Extensão Rural ICA/UFMG Prof. Orientador Délcio César Cordeiro Rocha
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8/29/20249 min read
Brasil Lidera o Uso de Agrotóxicos no Mundo
Artigo técnico/Campanha de Conscientização Ambiental
Autores: Alex Victor Guedes Lima; Maisa Vieira dos Santos; Raquel Inglides Viana Guimarães
Série: Eco Cidadão do Planeta/ Campanha Agrotóxicos/ Artigo técnico nº2
Curso: Zootecnia Disciplina: Extensão Rural ICA/UFMG
Prof. Orientador Délcio César Cordeiro Rocha
Levantamento da FAO
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) recentemente divulgou um levantamento que coloca o Brasil no topo da lista de países que mais utilizam agrotóxicos no mundo. Os dados de 2023 revelam que o Brasil usou impressionantes 719,5 mil toneladas de substâncias químicas para combater pestes em suas plantações. Este volume é significativamente maior do que o utilizado por outros grandes produtores agrícolas, como a China e os Estados Unidos.
Para efeito de comparação, a China, conhecida por sua robusta indústria agrícola, aplicou aproximadamente 244 mil toneladas de agrotóxicos no mesmo período. Enquanto isso, os Estados Unidos, outra potência na produção de grãos e outros produtos agrícolas, utilizaram cerca de 457 mil toneladas. Assim, o Brasil excedeu o uso combinado desses dois países, sublinhando a dimensão do uso de produtos químicos no setor agrícola brasileiro.
Este levantamento da FAO traz à luz a intensidade com que os agrotóxicos são empregados nas lavouras brasileiras. Tais números não apenas indicam a magnitude do uso, mas também provocam uma reflexão sobre as práticas agrícolas e suas implicações para a saúde humana e ambiental. Ao considerar os volumes reportados, é evidente que o Brasil se posiciona como líder global no uso de agrotóxicos, o que suscita discussões sobre sustentabilidade, segurança alimentar e alternativas mais ecológicas para a produção agrícola.
Contexto do Uso de Agrotóxicos no Brasil
O uso massivo de agrotóxicos no Brasil é influenciado por diversas características da agricultura do país. Entre os fatores fundamentais, a vasta extensão de terras dedicadas à agricultura desempenha um papel crucial. Com uma área agrícola superior a milhões de hectares, o Brasil precisa adotar medidas rigorosas de controle de pragas para garantir a produtividade e a viabilidade econômicas das suas colheitas.
A diversidade de culturas cultivadas também é um elemento significativo a ser considerado. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de soja, milho, cana-de-açúcar e café, entre outros. Cada uma dessas culturas requer diferentes tipos de pesticidas para controlar pragas específicas, contribuindo para o elevado uso de agrotóxicos. Além disso, a agricultura brasileira está fortemente baseada em um modelo intensivo que visa a maximização da produção. Esse modelo opera sob a premissa de que um controle eficaz de pragas é essencial para manter altas taxas de produtividade.
No entanto, esse uso exagerado de agrotóxicos levanta questões significativas sobre a sustentabilidade do modelo agrícola atual. Estudiosos e ambientalistas alertam para os potenciais impactos negativos, incluindo a degradação do solo e da água, a perda de biodiversidade e os riscos à saúde pública. Estes impactos adversos tornam imperativa a busca por práticas agrícolas mais sustentáveis que possam equilibrar a necessidade de alta produtividade com a preservação dos recursos naturais e a proteção ambiental.
Nesse contexto, é vital que tanto os agricultores quanto os formuladores de políticas considerem alternativas aos métodos tradicionais de controle de pragas. A agricultura orgânica, a rotação de culturas e o uso de biopesticidas representam algumas das práticas que podem contribuir para um uso mais sustentável e responsável de agrotóxicos no Brasil. O desafio é adotar um modelo que sustente tanto a economia agrícola do país quanto a saúde e o bem-estar dos seus ecossistemas.
Comparação com Outros Países
A análise comparativa entre o Brasil, a China e os Estados Unidos revela discrepâncias consideráveis no uso de agrotóxicos, destacando o Brasil como líder absoluto nessa prática. Quando examinamos a China, que possui uma população aproximadamente sete vezes maior que a do Brasil, encontramos um dado surpreendente: o uso de agrotóxicos por hectare na China é significativamente menor. Este contraste evidencia não apenas a intensidade do uso de defensivos agrícolas no Brasil, mas também suscita questionamentos sobre a eficiência e a sustentabilidade das práticas agrícolas adotadas no país.
Os Estados Unidos, por sua vez, são reconhecidos mundialmente como uma potência agrícola, com produções intensivas de grãos e outras culturas. No entanto, mesmo com uma grande extensão de terras cultiváveis e uma produção agrícola robusta, o uso de agrotóxicos per capita ou por hectare é bastante inferior ao do Brasil. Esta realidade aponta para possíveis diferenças nas políticas regulatórias, nas tecnologias agrícolas empregadas e na adoção de práticas integradas de manejo de pragas que podem reduzir a necessidade de agrotóxicos.
Essas diferenças destacam diversos aspectos da gestão agrícola e das políticas públicas voltadas para a agricultura nos referidos países. A eficiência no uso de agrotóxicos, a dependência de produtos químicos para controle de pragas e doenças, e as estratégias de mitigação de impactos ambientais são pontos centrais que definem a abordagem de cada nação em relação ao seu cenário agrícola. Enquanto o Brasil enfrenta críticas crescentes sobre seu modelo de uso intensivo de agrotóxicos, os exemplos da China e dos Estados Unidos ilustram que é possível manter uma agricultura produtiva com menor dependência química.
Portanto, a comparação enfática entre o Brasil e outras nações agrícolas proeminentes não apenas sublinha um uso desproporcional de agrotóxicos, mas também convida à reflexão sobre aperfeiçoamentos necessários nas práticas agrícolas e nas políticas de uso sustentável de defensivos agrícolas no Brasil. A promoção de políticas mais rigorosas e a adoção de tecnologias limpas podem ser caminhos para reduzir a disparidade atualmente observada.
Impactos Ambientais e na Saúde
O uso excessivo de agrotóxicos no Brasil tem gerado uma série de impactos preocupantes tanto para o meio ambiente quanto para a saúde pública. A contaminação de solos é um dos problemas mais visíveis, afetando a fertilidade do solo e tornando-o menos produtivo ao longo do tempo. Além da degradação da terra, a água também sofre contaminação, seja por meio de escoamento superficial ou infiltração no lençol freático. Esse problema é particularmente grave em regiões agrícolas intensivas, onde o uso de agrotóxicos é mais frequente e abundante.
Os efeitos adversos não se limitam ao meio ambiente. A exposição contínua aos agrotóxicos coloca os trabalhadores agrícolas em risco elevado de desenvolver doenças crônicas, como câncer e doenças neurológicas, além de sintomas de envenenamento agudo, que podem incluir náuseas, tonturas e problemas respiratórios. Essas substâncias químicas não agem de forma seletiva, causando também danos à fauna local – inclusive a polinizadores essenciais como abelhas.
Populações que vivem nas proximidades das áreas agrícolas não estão imunes aos efeitos indiretos dos agrotóxicos. A contaminação do ar e da água eleva os riscos para a saúde dessas comunidades, muitas vezes resultando em um aumento na incidência de problemas respiratórios e doenças de pele. Estudos têm demonstrado que crianças em áreas rurais são particularmente vulneráveis a esses efeitos, apresentando taxas mais altas de malformações congênitas e problemas de desenvolvimento.
Ademais, a presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos representa um risco adicional para os consumidores. A ingestão contínua de alimentos contaminados pode levar à bioacumulação de substâncias tóxicas no organismo humano, com consequências graves a longo prazo. Assim, os impactos do uso excessivo de agrotóxicos no Brasil são multifacetados e afetam diferentes aspectos do ambiente e da saúde pública, exigindo uma abordagem integrativa para mitigar esses efeitos e promover práticas agrícolas mais sustentáveis.
Regulamentação e Política de Agrotóxicos no Brasil
A regulamentação do uso de agrotóxicos no Brasil está no centro de intensos debates políticos e sociais. Atualmente, o país adota uma legislação comparativamente permissiva que permite a comercialização e o uso de uma ampla gama de produtos agroquímicos. Esta abordagem tem atraído críticas tanto de organizações ambientais quanto de grupos de defesa da saúde pública, que destacam os potenciais riscos associados ao uso indiscriminado de agrotóxicos.
Os defensores da regulamentação mais rígida argumentam que o Brasil deve alinhar suas normas às práticas mais rigorosas observadas em outros países, especialmente na União Europeia, onde muitos agrotóxicos utilizados no Brasil são proibidos. Estes defensores acreditam que uma legislação mais estrita poderia reduzir os impactos negativos sobre o meio ambiente e a saúde humana, além de impulsionar práticas agrícolas sustentáveis. Eles destacam a necessidade de fortalecer a fiscalização e de promover alternativas menos nocivas, como a agricultura orgânica e o manejo integrado de pragas.
Por outro lado, há uma corrente significativa que advoga pela flexibilização das normas existentes. Este grupo, composto principalmente por representantes do agronegócio, argumenta que uma regulamentação mais liberal facilitaria o acesso a novos produtos tecnológicos, potencializando a competitividade da agricultura brasileira no mercado global. Eles enfatizam que a competitividade é crucial para manter o Brasil como um dos maiores fornecedores de alimentos do mundo e que os agrotóxicos são indispensáveis para manter os níveis de produtividade exigidos pelo setor.
Este embate entre regulamentação e flexibilidade cria um cenário complexo, no qual as decisões políticas devem equilibrar os interesses econômicos com as preocupações ambientais e de saúde pública. A legislação vigente tem sido revisada com frequência, refletindo a natureza dinâmica das demandas e pressões enfrentadas pelos legisladores. Todavia, encontrar um ponto de equilíbrio que satisfaça todas as partes envolvidas continua sendo um desafio considerável.
Perspectivas Futuras e Alternativas Sustentáveis
Diante do crescente uso de agrotóxicos no Brasil, torna-se imperativo considerar alternativas mais sustentáveis para o futuro da agricultura. A agricultura orgânica surge como uma opção robusta, promovendo a produção de alimentos sem o emprego de substâncias químicas nocivas. Este método não apenas protege a saúde dos consumidores, mas também preserva a biodiversidade e a qualidade do solo.
Outro avanço significativo em direção à sustentabilidade é o uso de biopesticidas. Esses agentes naturais, derivados de plantas, microorganismos e elementos minerais, oferecem uma proteção eficiente contra pragas sem os efeitos colaterais negativos dos agrotóxicos químicos tradicionais. Os biopesticidas podem ser integrados a práticas agrícolas existentes, proporcionando uma transição suave para métodos mais ecológicos.
Além disso, a adoção de práticas agroecológicas é fundamental. A agroecologia integra conhecimento científico com práticas tradicionais, promovendo um sistema agrícola mais holisticamente sustentável. Técnicas como rotação de culturas, sistemas agroflorestais e a promoção de inimigos naturais das pragas podem reduzir significativamente a necessidade de agrotóxicos.
A pesquisa e o desenvolvimento tecnológico também desempenham um papel crucial nesse processo. Investir em inovação pode levar à descoberta de novas formas de cultivo que minimizem ou eliminem o uso de agrotóxicos. Tecnologias como drones para agricultura, sistemas inteligentes de irrigação e o uso de sensores para monitoramento de solo são exemplos de como a tecnologia pode promover uma agricultura mais eficiente e sustentável.
Em última análise, reduzir a dependência de agrotóxicos no Brasil requer uma combinação de práticas agrícolas sustentáveis, inovação tecnológica e políticas públicas que incentivem essas mudanças. Ao adotar essas alternativas, não apenas protegemos o meio ambiente, mas também garantimos a saúde e o bem-estar das futuras gerações.
Fontes: Adaptados de:
Comissão de Meio Ambiente do Senado
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Foto: Aplicação de agrotóxicos — Foto: Agência Brasil
Como Citar:
Portal AMBIENTE EM FOCO. LIMA, A. V. G.; SANTOS, M. V. dos.; GUIMARÃES, R. I. V. & ROCHA, D. C. C. Preocupante, Brasil Lidera o Uso de Agrotóxicos no Mundo . Disponível em: https://ambienteemfoco.com/preocupante-brasil-lidera-uso-de-agrotoxicos-no-mundo Série: Eco Cidadão do Planeta. Campanha/Artigo técnico nº2. Publicado em 2024. Acesso em DIA/ MÊS/ ANO